No
presente blog foram anteriormente apresentadas as diferentes
concepções de organização e de gestão escolar: a
técnico-científica, a autogestionária, a interpretativa e a
democrático participativa.
Dentro
do panorama nacional, pode-se dizer que as escolas públicas são em
sua maioria administradas de forma semelhante à concepção
técnico-científica, onde o poder é centralizado no diretor (e na
direção em geral da escola), possuem uma rígida estrutura
hierarquizada com comunicação linear (de cima para baixo) baseada
em normas e regras e com maior ênfase nas tarefas do que nas pessoas
e na comunidade onde a escola se localiza. Quanto às escolas
particulares, são minoria aquelas que fogem da concepção
técnico-científica.
Ao
realizar esse breve diagnóstico acerca das concepções de
organização e gestão escolar dentro do cenário nacional, é
necessário estabelecer uma ligação entre tal conceito e as funções
sociais da escola. Existem muitos eufemismos (para não dizer
romantismo) utilizados para descrever as funções sociais da escola,
por exemplo: fala-se que a escola tem como função ensinar a criança
a viver em sociedade e torná-la cidadã, enquanto na realidade tal
propósito é de ensinar a criança a obedecer regras sem
questioná-las (que, a meu ver, é algo bem próximo da domesticação
que fazemos com animais); onde fala-se que a escola tem como
propósito ensinar os conhecimentos científicos historicamente
acumulados, o que na realidade ocorre é uma capacitação do
indivíduo para o mercado de trabalho, visto que, nas escolas
periféricas onde predominam alunos de baixa renda, ocorre um mero
treinamento de “mão de obra barata”.
Dentro
dessa perspectiva de “adestramento” dos sujeitos, a concepção
de organização técnico-científica se encaixa perfeitamente, pois
cumpre as referidas funções sociais da escola. Mas ao aprofundarmos
o olhar para tais funções encontramos algumas outras que raramente
acontecem de fato, justamente pelo tipo de gestão escolar que
predomina no Brasil. Tem-se também como função social da escola
proporcionar ambientes propícios para a reflexão, desenvolvimento
de senso crítico e autonomia individual. Tais objetivos somente
serão obtidos com sucesso a partir de outras formas de gestão,
diferentes da técnico-científica, como a concepção sociocrítica*.
Para
realizar as funções sociais citadas acima, dentro da escola deve
haver o diálogo, não só entre educador e educando, bem como entre
todos os integrantes da comunidade escolar e de seu entorno. Mas esse
“diálogo” deve ocorrer numa perspectiva Paulo-freiriana, onde
aquele que fala também está aberto a escutar, entender e refletir
sobre outras opiniões e ideias. E é a partir desse diálogo que
devem ser estabelecidas as diretrizes de ensino de cada escola, bem
como seus regulamentos. Sem essa troca de informações fica
praticamente impossível fazer com que o ambiente escolar seja de
fato algo positivo e engrandecedor aos seus alunos, pois cada escola
tem suas especificidades e suas demandas específicas.
Para
que isso ocorra, seria necessário uma grande reestruturação do
cenário escolar nacional. E dificilmente essa transformação
ocorrerá de cima para baixo, pois uma das principais (e menos
divulgadas) funções sociais da escola é a manutenção do status
quo, ou seja, manter quem está no poder, no poder; e manter quem
está fora dele, do lado de fora.
Mas
sejamos otimistas, pois tal transformação acredito já está em
curso, vide as ocupações das escolas que estão ocorrendo em São
Paulo e em Goiás. Os alunos não querem mais passar anos a fio
sofrendo opressões nas salas de aula, para somente os que forem “bem
sucedidos” conseguirem um cargo mal pago em uma empresa qualquer.
*concepção
que engloba as concepções autogestionária, interpretativa e
democrático participativa.
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