quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Reflexões baseadas no texto trabalhado em sala, intitulado “O Sistema de Organização e de Gestão da Escola: Teoria e Prática”, dos autores José Carlos Libâneo, João Ferreira de Oliveira e Mirza Seabra Toschi – por Kali Turrer

No presente blog foram anteriormente apresentadas as diferentes concepções de organização e de gestão escolar: a técnico-científica, a autogestionária, a interpretativa e a democrático participativa.
Dentro do panorama nacional, pode-se dizer que as escolas públicas são em sua maioria administradas de forma semelhante à concepção técnico-científica, onde o poder é centralizado no diretor (e na direção em geral da escola), possuem uma rígida estrutura hierarquizada com comunicação linear (de cima para baixo) baseada em normas e regras e com maior ênfase nas tarefas do que nas pessoas e na comunidade onde a escola se localiza. Quanto às escolas particulares, são minoria aquelas que fogem da concepção técnico-científica.
Ao realizar esse breve diagnóstico acerca das concepções de organização e gestão escolar dentro do cenário nacional, é necessário estabelecer uma ligação entre tal conceito e as funções sociais da escola. Existem muitos eufemismos (para não dizer romantismo) utilizados para descrever as funções sociais da escola, por exemplo: fala-se que a escola tem como função ensinar a criança a viver em sociedade e torná-la cidadã, enquanto na realidade tal propósito é de ensinar a criança a obedecer regras sem questioná-las (que, a meu ver, é algo bem próximo da domesticação que fazemos com animais); onde fala-se que a escola tem como propósito ensinar os conhecimentos científicos historicamente acumulados, o que na realidade ocorre é uma capacitação do indivíduo para o mercado de trabalho, visto que, nas escolas periféricas onde predominam alunos de baixa renda, ocorre um mero treinamento de “mão de obra barata”.
Dentro dessa perspectiva de “adestramento” dos sujeitos, a concepção de organização técnico-científica se encaixa perfeitamente, pois cumpre as referidas funções sociais da escola. Mas ao aprofundarmos o olhar para tais funções encontramos algumas outras que raramente acontecem de fato, justamente pelo tipo de gestão escolar que predomina no Brasil. Tem-se também como função social da escola proporcionar ambientes propícios para a reflexão, desenvolvimento de senso crítico e autonomia individual. Tais objetivos somente serão obtidos com sucesso a partir de outras formas de gestão, diferentes da técnico-científica, como a concepção sociocrítica*.
Para realizar as funções sociais citadas acima, dentro da escola deve haver o diálogo, não só entre educador e educando, bem como entre todos os integrantes da comunidade escolar e de seu entorno. Mas esse “diálogo” deve ocorrer numa perspectiva Paulo-freiriana, onde aquele que fala também está aberto a escutar, entender e refletir sobre outras opiniões e ideias. E é a partir desse diálogo que devem ser estabelecidas as diretrizes de ensino de cada escola, bem como seus regulamentos. Sem essa troca de informações fica praticamente impossível fazer com que o ambiente escolar seja de fato algo positivo e engrandecedor aos seus alunos, pois cada escola tem suas especificidades e suas demandas específicas.
Para que isso ocorra, seria necessário uma grande reestruturação do cenário escolar nacional. E dificilmente essa transformação ocorrerá de cima para baixo, pois uma das principais (e menos divulgadas) funções sociais da escola é a manutenção do status quo, ou seja, manter quem está no poder, no poder; e manter quem está fora dele, do lado de fora.
Mas sejamos otimistas, pois tal transformação acredito já está em curso, vide as ocupações das escolas que estão ocorrendo em São Paulo e em Goiás. Os alunos não querem mais passar anos a fio sofrendo opressões nas salas de aula, para somente os que forem “bem sucedidos” conseguirem um cargo mal pago em uma empresa qualquer.

*concepção que engloba as concepções autogestionária, interpretativa e democrático participativa.

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